“Não é só um paciente, é o amor da vida de alguém”. Nesse dia 21 de março de 2021, o Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop) contabiliza quase mil atendimentos na unidade Covid-19. Os números ainda apontam mais de 700 pacientes recuperados, e quase 200 óbitos. Mas não são apenas números ou pacientes, e sim, amores da vida de alguém. São vidas que têm famílias e histórias, como o Antonio Newton, que foi o primeiro paciente a receber alta da unidade, como a do Gesse Viana da Costa, que ficou mais de 50 dias internado e emocionou as equipes ao ser um dos primeiros pacientes a receber alta, como também a do Mario Catarino Jara, que ficou surpreso ao saber que seria o centésimo paciente a sair do hospital. São pessoas, que carregam também gratidão por todos os profissionais de saúde, como o Celso Ari Ewald, que fez questão de tirar uma foto com as equipes e agradecer.
Momentos e histórias como essas são combustíveis de esperança para os profissionais de saúde, que enfrentam nesse momento o cansaço e a preocupação com a quantidade de casos de Covid-19 na região. “Nunca imaginei que ia viver isso. Eu quis entrar para justamente ver como era. É um estado de guerra, estado de calamidade”, diz o médico, Gabriel Nunes Lopes da Silva.
As intercorrências são mais comuns nessa unidade, e aliado a isso, a paramentação, também é um grande fator que contribui com o cansaço. “O calor é excessivo, a máscara aperta de mais, existe a dificuldade em falar, precisa ser um tom bem mais alto. A paramentação nos deixa muito mais cansados”, afirma a enfermeira, Francielly Vanessa Corrêa.
Nas últimas semanas, os profissionais de saúde também se preocuparam com as mudanças nos perfis dos pacientes. “Notamos que a faixa etária está baixando, antes eram só pacientes idosos, com doenças crônicas, e agora temos pacientes na casa dos 20/30 anos, com parâmetros altos, ventilador fazendo muita força. Então assusta um pouco, ainda mais sem perspectiva de saber quando vai terminar”, ressalta o médico, Gabriel. “A maioria toma o coquetel profilático, sem estudos de que funciona. Mas infelizmente, se for acometido e tiver os critérios de gravidade, vem para a UTI. Questionam muito a respeito da família, e nesse momento, todos acham que vão morrer”, complementa o médico.
Além do cansaço, o medo de contaminação, principalmente dos familiares, também é um fator em comum entre os profissionais de saúde. “Não conheci ninguém que pegou Covid leve. Os pacientes de Covid que eu pego estão na UTI, com histórico de sofrimento grave. Ninguém entende isso que a gente passa”, diz a técnica de enfermagem, Claudia Frantz.
Muitos se afastaram dos familiares por medo de contaminação, como a Claudia, que abraçou os pais pela última vez na Páscoa do ano passado. Já outros, tentam se prevenir da melhor forma para garantir a segurança. “Minha filha perguntou se eu ia morrer, se eu ia me contaminar. Disse que iria fazer o possível, para não contaminar também o vovô e a vovó. Nesse momento eu tive a certeza que eu deveria fazer muito mais do que eu já faço para isso não acontecer”, comenta Francielly.
HISTÓRICO DA UNIDADE COVID-19
Um esforço conjunto dos profissionais de saúde garantiu que a unidade, que havia sido construída para uma futura ala de queimados, estivesse pronta a tempo para oferecer o atendimento exclusivo para pacientes acometidos pela Covid-19 no dia 21 de março de 2020. Nesse primeiro momento, a Unidade de Terapia Intensiva contava com 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva, e 20 leitos de enfermaria.
A abertura dos leitos foi gradativa, conforme a demanda de atendimentos da macrorregião. Em junho, abertura de mais 10 leitos de UTI; em julho, mais 10 leitos de UTI, e 7 de enfermaria, totalizado 30 leitos de UTI e 27 de enfermaria; em dezembro, uma nova organização disponibilizando 38 leitos de UTI, e 15 de enfermaria; e em março de 2021, mais 12 leitos de UTI, totalizando 50 leitos de UTI, e 15 de enfermaria. O planejamento para ampliação dos leitos não teve pausa, e para as próximas semanas, mais 20 leitos de UTI devem ser disponibilizados na região.
MENSAGEM PARA A POPULAÇÃO
Nesse 1 ano da unidade Covid-19, o Huop agradece o esforço e a dedicação de todos os profissionais de saúde. E a mensagem deixada por eles, é para a população, para que tenham empatia e tomem cuidado para evitar a contaminação:
“Quando a gente escuta algo sobre aglomeração nos deixa muito triste. Também gostaríamos de tirar essa máscara, porque bem ou mal ela machuca. Então eu espero que as pessoas se cuidem, para que isso tudo acabe”, finaliza a enfermeira, Cristiane Santos Nicolau.