A equipe multidisciplinar é essencial no atendimento de pacientes com Covid-19, internados na Unidade de Terapia Intensiva. No Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop), a Odontologia também faz parte dessa equipe, e na UTI Covid-19, ela tem contribuído com os resultados positivos: um deles a taxa de mortalidade da unidade de 39%, menor que a taxa a nível nacional. “Nosso trabalho auxilia muito na redução de complicações, principalmente a redução de pneumonias associadas à ventilação mecânica. Cerca de 95% dos pacientes que passam pelo setor estão nessa condição. Isso resulta diretamente na redução do tempo de internamento e a melhora clínica do paciente”, explica a dentista Camilla Sanches Azevedo.
Desde outubro de 2020 já foram mais de 2 mil atendimentos na unidade Covid-19, “desde protocolos de higiene oral, extrações, laserterapia, além disso, o auxílio na diminuição de lesões relacionadas à doença e ao tratamento, como exemplo a prona. Nesses casos percebemos uma grande diminuição das lesões de face, ocasionadas pela posição do paciente, e auxiliamos na colocação de placa protetora para que não mordam o tubo e ocorra ainda mais lesões”, ressalta Camilla.
A doença é nova, e por isso, as características bucais também chamam a atenção das equipes. “Esses pacientes apresentam mais sangramento, mais descamação, entre outras características que encontramos em comum”, diz Camilla. “O perfil de evolução e o padrão de comportamento da boca é completamente diferente de um paciente internado em uma UTI convencional. Nesse tempo já classificamos o padrão dos pacientes, in loco já sabemos quando a boca é característica de um paciente com a doença”, complementa a dentista, Marli Maria Schmitt Walker.
A equipe ainda ressalta a importância de realizar as visitas diárias e de avaliar desde casos simples, como os lábios desidratados do paciente. “Um simples lábio desidratado pode evoluir para uma fissura e é uma oportunidade para um microrganismo se instalar e se tornar assim um foco de infecção”, avalia Marli. “As necroses, causadas pelas lesões, também é uma característica bucal nessa unidade, que tomamos muito cuidado para descontaminar, tratar, e assim prevenir outras infecções”, diz a dentista Carolina Schmitt Walker.
A avaliação in loco do paciente com Covid-19 identifica diversos padrões diferentes de pacientes internados em uma UTI convencional, e por isso, as condutas dos pacientes são discutidas com toda a equipe, e integram também profissionais de saúde de toda equipe multidisciplinar. “Otimizamos o tempo com a avaliação separada, mas as condutas sempre discutidas juntas, tendo em vista que a lesão oral interfere diretamente na melhora clínica do paciente, e por isso, precisamos discutir também com profissionais de outras áreas. Além disso, é uma doença nova e por isso, precisamos sempre estar discutindo e aprendendo mais”, enfatiza Carolina.
A equipe é composta por três dentistas, com especialização no Hospital Israelita Albert Einstein, e que realizam as visitas diárias aos pacientes diariamente. Todas com experiência em Unidades de Terapia Intensiva, avaliam a unidade Covid-19 com muito mais desafios:
“É cansativo, estressante mental e fisicamente, mas ao mesmo tempo tenho a sensação de que estamos fazendo a nossa parte. É uma doença nova, e estamos dando o nosso melhor para que esses pacientes tenham uma melhora clínica. Vamos continuar juntos nessa luta, com esperança e aguardando um desfecho positivo”, Camilla.
“É estressante, angustiante, porque muitas vezes fazemos todo o possível e então percebemos que não podemos contribuir mais. Nesse sentido, cansamos um pouco mais, pois envolve o emocional. Temos sempre o sentimento de querer fazer o melhor, de fazer mais, sempre achamos isso. Então quando o paciente evoluiu à óbito, nos comove, principalmente porque não puderam recebem ninguém nesse período, então muitas vezes eles tiveram apenas nós”, diz Marli.
“Nesse momento não somos apenas profissionais de saúde que contribuem na recuperação, passamos a se tornar também um pouquinho da parte daquele familiar que não pôde receber ninguém. Lembro de um dia em que o paciente que estava sendo extubado, segurou minha mão e mexeu a boca dizendo ‘fica aqui comigo por favor’. Eu fiquei esse tempo segurando a mão dele e quando foi tirado o tubo ele segurava a minha mão e agradecia, porque ele tinha muito medo. Ao mesmo tempo que é mais cansativo, a recompensa também é maior”, finaliza Carolina.