As imagens começam a ser registradas ainda na Estação de Tratamento de Esgoto da Sanepar no município de Corbélia. Preste bem atenção no caminhão caçamba. Ele carrega os rejeitos depois que a água é tratada. O que sobra é uma mistura de dejetos humanos, formando um lodo. O motorista do caminhão deveria levar a carga para uma usina onde passaria por um processo de secagem e, só depois deveria seguir para o descarte, em um local apropriado como forma de adubo, por exemplo. Mas não é isso que foi flagrado.
O caminhão foi observado na última quinta-feira, dia 21 de maio, pelo Portal24h fazendo o recolhimento em Corbélia. De lá, o caminhão caçamba com placas de Cascavel e que pertence a uma autofossa da cidade, pega a BR-369 e roda por cerca de 30 quilômetros. Entra em Cascavel, passa pela sede da empresa no Bairro Morumbi e minutos depois segue dali, não para o local onde os dejetos deveriam ser submetidos à preparação ideal, mas para uma área que não poderia receber esse tipo de descarte: o aterro municipal de Cascavel. Toda a ação foi filmada pela reportagem.
Sem dificuldades, o veículo passa pela pesagem e entra no aterro para uma ação, que segundo a Prefeitura de Cascavel, não tem autorização, não é legal e que vai ser investigada.
A Sanepar diz desconhecer que os rejeitos do esgoto de Corbélia estejam sendo descartados sem o tratamento adequado no aterro aqui. Mas o fato tem contribuído para sobrecarregar a estrutura, além de causar um importante e nocivo impacto ambiental.
Agora, o que se busca, além de identificar os responsáveis, é saber quantas vezes por semana a prática vinha sendo registrada e se os rejeitos de outros municípios também têm vindo de forma irregular para o aterro daqui.
Desde que essas imagens foram feitas na semana passada, os caminhões teriam deixado de fazer o percurso. Ocorre que a suspeita de descarte irregular no aterro em Cascavel é antiga e chegou a ser investigada por um vereador há cerca de 3 anos, mas na época não houve comprovação dos fatos.
O que dizem as partes
A Esac Saneamento, que é de Santa Catarina e venceu o certamente para prestar serviços à Sanepar, terceirizou o recolhimento para a autofossa da cidade. Por telefone uma das funcionárias da empresa disse não ter conhecimento de que o descarte irregular estaria ocorrendo, mas solicitou que os questionamentos fossem enviados por email. Ele foi remetido pela reportagem, mas até o momento não houve retorno.
O Portal24h tentou contato com o dono da Autofossa Cascavel, mas apesar dos recados, não houve retorno.
Investigação
A Secretaria de Meio Ambiente de Cascavel afirmou que o que existe, desde 2017, é uma autorização para a Sanepar encaminhar lodo de esgoto estabilizado e desidratado ao aterro sanitário, mas proveniente das estações de tratamento apenas de Cascavel. Vale destacar que isso só pode ser feito com o devido tratamento adequado, não cru. “Caso a Sanepar tenha encaminhado lodo de outros municípios, não é de conhecimento da Sema”, afirmou a Secretaria em nota.
Ainda segundo a Secretaria, o Município utiliza o lodo estabilizado e desidratado como adubo para a recuperação do solo de cobertura para posterior plantio de grama.
Os resíduos sólidos provenientes da estação de tratamento de esgoto são classificados como Classe IIA, similares a resíduos domiciliares.
“Atualmente o Município recebe uma média de 50 toneladas por mês destes resíduos e a a Sanepar paga 0,69 UFM (Unidade Fiscal do Município) por tonelada. A Secretaria de Meio Ambiente autoriza material proveniente do município de Cascavel. Estamos solicitando esclarecimentos à Sanepar sobre esta denúncia”, afirmou.
O que diz a Sanepar
Já a Sanepar afirma que o lodo das estações de tratamento de esgoto de Cascavel e das cidades da região (Corbélia, Céu Azul, Matelândia, Três Barras do Paraná e Guaraniaçu), após secagem, é transportado para a UGL (Unidade de Gerenciamento de Lodo) que funciona na Estação de Tratamento de Esgoto Norte, em Cascavel. “Todo o lodo é rico em nitrogênio e potássio muito utilizado no mundo todo como adubo orgânico na agricultura e também, utilizado para fechamento de células de resíduos urbanos (lixo) nos aterros sanitários. O lodo de Cascavel representa 90% do total tratado na UGL. E é essa parte que é destinada ao aterro sanitário de Cascavel para ser utilizado como adubo na recomposição das células, evitando que a Prefeitura Municipal tenha custos com adubamento das mesmas”.
“A Sanepar paga ao Município de Cascavel pelo descarte do material, porque na região os agricultores ainda não recebem este material, diferente de muitos municípios do Paraná e Brasil”, completou a companhia de saneamento.
Porém, a Sanepar afirma que é “este lodo não é descartado como resíduo no aterro municipal e sim utilizado como adubo. A outra parte do lodo é utilizada na adubação de cortinas verdes e na jardinagem das estações de tratamento de esgoto”.
“Com relação à denúncia, está sendo averiguado o motivo de o caminhão que saiu da estação de Corbélia [ter vindo] para o aterro sanitário de Cascavel”.
O prefeito de Corbelia, Giovani Miguel Wolf Hnatuw, foi procurado pela reportagem, mas não atendeu as ligações.
O Portal24h também tentou contato com o engenheiro responsável pelo aterro em Cascavel. Ele também não retornou o contato.