Sem vale e sem acordo, funcionários do Samu ameaçam greve
Sindicatos não aceitam proposta de reajuste oferecida pelo consórcio, convocam passeata e ameaçam cruzar os braços...
Cotidiano | Publicado em 06/07/2017 11:42
Quando você vê ou ouve a ambulância do Samu se aproximando, abre espaço na rua em meio ao trânsito para dar preferência ao veículo que está a caminho de salvar mais uma vida. A bordo estão profissionais bem preparados para atender as situações mais adversas com equipamentos e materiais suficientes para levar o paciente com segurança até o pronto-socorro.
O que você não sabe é que dentro destas ambulâncias também estão trabalhadores descontentes com a forma como vêm sendo tratados pelo Consamu – Consórcio Intermunicipal Samu Oeste/PR – o administrador do serviço em nossa região. Embaixo dos macacões e jalecos estão chefes de famílias que tiveram seus vales-alimentação e refeição cortados, enquanto os sindicatos e o Consórcio não chegam a um denominador comum para a homologação do novo acordo trabalhista.
Os trabalhadores do Consamu pertencem a três sindicatos diferentes: o dos médicos, o dos enfermeiros e o que representa todos os demais. Os acordos coletivos de trabalho homologados com os dois últimos sindicatos já estão vencidos. O dos médicos vence no próximo mês.
Enfermeiros
O último acordo do Consamu com o Sindicato dos Enfermeiros do Oeste, Noroeste e Sudoeste do Estado do Paraná – Senfeonspar – venceu no final do mês de maio e garantia vale-alimentação no valor de R$ 320 e vale-refeição no valor de R$ 13 por dia para quem trabalha mais de seis horas diárias. O presidente do sindicato, Ronaldo Luiz Barbosa, afirma que está em tratativa com o consórcio desde o mês de maio, com poucos avanços. “Esta semana, de forma unilateral, o Consamu suspendeu o vale-alimentação de todos os trabalhadores e isto é uma afronta”.
Segundo o presidente, os enfermeiros solicitam a reposição salarial com o índice de inflação de 3,94% mais 10% de ganho real, enquanto que o consórcio oferece somente o índice da inflação, o que não foi aceito pela classe e a negociação agora está em trâmite no Ministério do Trabalho.
Ronaldo afirma que o Consamu usa uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal para justificar o corte no pagamento dos vales, no entanto, em anos anteriores os vales seguiam sendo pagos até que um novo acordo fosse concretizado pelas partes. “Esta decisão vai à contramão do que já houve em períodos anteriores, onde as diferenças eram pagas, inclusive, de forma parcelada”, afirmou.
“Os enfermeiros do Consamu Oeste são os que menos ganham em todo o Paraná e, quiçá, do Brasil. Por causa disso muitos profissionais já pediram dispensa, afinal tem clínicas que pagam um salário melhor e com melhor estrutura”, lamentou o presidente.
Atualmente o sindicato representa 110 profissionais concursados com salário de R$ 2.279 para uma carga horária de 36 horas por semana. A média salarial em outros estabelecimentos é de R$ 3.200.
Barbosa quer que a população saiba o que está acontecendo e diz que “no momento o sindicato e os trabalhadores não querem paralisar as atividades, mas não podem pagar o preço pela falta de condições para a atividade profissional. Os enfermeiros exercem um trabalho de extrema importância para a comunidade”.
Ronaldo informou que os trabalhadores ligados ao sindicato já se mobilizaram para a realização de uma passeata na Avenida Brasil na manhã desta sexta-feira e contam com a adesão de outros municípios da região. No final da tarde de ontem o líder sindical teria uma nova reunião com a direção do Consamu, na tentativa de avançar nas negociações.
“Com as mudanças na gestão, o Samu é tratado como uma despesa, esquecendo que o serviço faz parte da rede de acesso à saúde”, finalizou.
Outros trabalhadores
Com exceção dos médicos e enfermeiros, todos os outros servidores do Consamu fazem parte do Sindesauvel – Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Saúde de Cascavel e Região – cujo acordo também venceu no mês de maio. O pagamento dos vales-alimentação e refeição também está suspenso.
“Estamos tentando negociar desde março, mas não há avanços porque o patronal não quer dar nada além dos 3,94% de inflação”, afirma Dalva Selszler, presidente da entidade.
Com o reajuste de 3,94% o vale-refeição que hoje é de R$ 13 passaria a R$ 13,52, o que não é aceito pela categoria. “Já levamos para assembleia três vezes e os trabalhadores recusaram. Na última assembleia, que foi no dia 3 de julho, mais uma vez foi rejeitada a proposta”, informou a líder sindical que representa mais de 1.800 trabalhadores. Na última assembleia os trabalhadores já aprovaram o indicativo de greve que será votado em definitivo amanhã (7) às 14 horas. Depois disso, o sindicato vai comunicar o Consamu e tem 72 horas para iniciar a greve.
O sindicato solicita reajuste de 10%, vale-alimentação de R$ 400 e vale-refeição de R$ 16 por dia.
Os sindicalizados do Sindesauvel vão se somar aos enfermeiros na passeata desta sexta-feira, que terá início às 09 horas em frente à prefeitura de Cascavel. Dalva afirma que a passeata quer chamar a atenção da população para a intransigência na negociação. “Se a greve acontecer não é culpa do trabalhador, este é o nosso último recurso. Eu espero que os patrões tenham sensibilidade e não esperem pela greve. O sindicato quer negociar e os trabalhadores querem trabalhar”, finalizou.
Consamu
Depois de ouvir os sindicatos, entramos em contato com o diretor-geral do Consamu, José Peixoto da Silva Neto, que foi surpreendido pela notícia da possibilidade de greve e disse que só pode se manifestar quando for oficialmente comunicado pelos sindicatos. No entanto, Peixoto informou que o corte no pagamento dos vales está pautado na decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em outubro de 2016, que determinou a suspensão de todos os processos em curso na Justiça do Trabalho que se baseiem em acordos coletivos já vencidos. A decisão é liminar e ainda deverá passar pelo plenário do STF, mas já está valendo. “Não se trata de corte, se os acordos não estão vigentes, os pagamentos dos vales ficam suspensos até que seja feito um novo acordo”, informou Peixoto.
Sobre as negociações, o diretor afirma que não há possibilidade de pagamento de reajuste superior a 3,94% - índice inflacionário. “Não tem possibilidade, qualquer valor maior do que este deverá ser votado em assembleia com a presença dos 43 prefeitos que representam o Consamu. Na última assembleia houve indicação de redução de custos”.
Peixoto reconhece que o direito à greve é legítimo, mas que ele tem que ser exercido na forma da lei, respeitando todas as regras. “Se nós estamos nos propondo a pagar o índice inflacionário – que a Justiça reconhece como devido – qual é o motivo da greve?”, questionou e ainda, em – tom de crítica – lembrou que todos os servidores passaram pelo concurso público, cujo processo divulga amplamente o salário e todas as condições de trabalho. “Não tem novidade para ninguém, estamos cumprindo rigorosamente o que contratamos”.
O diretor ainda enalteceu o trabalho que Consamu vem fazendo junto aos municípios e se mostrou orgulhoso da qualidade do serviço oferecido à população de 43 cidades. Segundo ele, a manutenção da frota está em dia; “desafio você a me mostrar um pneu careca em uma de nossas ambulâncias”.
No primeiro semestre deste ano, o Consamu realizou quase 35 mil atendimentos pelos médicos através do telefone 192, com ou sem envio de recurso. Já o helicóptero fez 219 atendimentos.
Gestão da UPA
Ronaldo Luiz Barbosa, o líder sindical dos enfermeiros, não vê com bons olhos a gestão da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Tancredo Neves pelo Consamu. Segundo ele, se as condições de trabalho não estão satisfatórias com a demanda atual, tendem a piorar com a chegada de mais trabalho. “Esta é mais uma forma de precarização do serviço de saúde já que o consórcio, que hoje não consegue gerir a demanda, terá ainda mais responsabilidades”, criticou Ronaldo, que disse não ter sido comunicado oficialmente sobre a mudança de gestão.
José Peixoto da Silva Neto rebateu as críticas de Ronaldo e disse que as mudanças ainda nem foram deliberadas pelos prefeitos, portanto não foram ainda definidas e que os sindicatos serão oportunamente comunicados.
Prefeitura
Assim como o Consamu, a Prefeitura de Cascavel disse não ter sido ainda comunicada da greve. Mas lembra que este é um serviço essencial e que a lei exige que 30% siga em funcionamento durante o período de paralisação.
O texto é de Nileide Vieira da Gazeta do Paraná.
Fonte: CGN